terça-feira, junho 14, 2011

JOGUE FORA O SEU RELÓGIO


Por: Giovane Luz da Costa


O mundo muda muito rápido. Somos reféns do relógio e escravos do tempo. Não que o tempo passe mais rápido, mas sim nossa percepção do tempo é que muda.
Experimente em dois minutos enviar um torpedo, fazer anotações na agenda, ligar para a esposa e preparar um café. O tempo parecerá que voou, mas tudo foi feito em dois minutos. Agora experimente baixar as calças e sentar num bloco de gelo. Enquanto nossos quadris congelam esse tempo será uma eternidade, mas serão os mesmos dois minutos. O tempo é relativo, depende das circunstâncias.
Nas últimas décadas assistimos de camarote o vôo do tempo. Do vinil a música migrou para a fita K7, depois para o CD, e, por último para o MP3. O notebook que antes era ferramenta de executivos já faz frente com os computadores de mesa, e são acessíveis q qualquer um. Fazíamos pães com as mãos, agora temos a panificadora instantânea. O ICQ que virou MIRC que virou SKYPE e MSN. Fazíamos compras direto na loja, agora a loja vem até nós com um clique no mouse. Rolos e rolos de fita VHS se espremeram em pequenos discos metálicos ou azuis. Imagens e vídeos que achávamos que nunca mais fôssemos rever podem ser vistos direto no Youtube. O celular era gigantesco, precisávamos das duas mãos para segurá-lo. Agora é levíssimo e dispoem de TV, câmera, internet, GPS e alguns modelos até passam roupas para você. A internet discada levava centena de anos para conectar, caía toda a hora e justo no meio de um download. Hoje existe banda larga de 10, 20, 100 mega de velocidade, potência máxima. O sacrifício já é passado. Você só precisa pensar no que quer ver e o computador já traz tudo em segundos, sem esforço e dor de cabeça.
Estamos longe do futuro pregado pelos Jetsons. Carros voando pela cidade, pessoas se tele-transportando de um lugar para outro e robôs fazendo a faxina de casa ainda só podem ser vistos no desenho. Mas estamos no caminho.
Não adianta lutarmos contra o tempo, tampouco contra o avanço da tecnologia. Se eles nos fazem bem não há mal em desfrutá-los em todo o seu esplendor. Não me vejo em apuros quando surgem cabelos brancos se o tempo que os fez embranquecê-los foi bem aproveitado
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quinta-feira, junho 09, 2011


O ANDAR DE CIMA

Quem mora em apartamento saberá do que estou falando. No andar acima do meu presumo que more uma mulher. Discreta, sem alardes. Não há sinal de festas de arromba, nem de conversas alteradas. Um típico silêncio do convento das Carmelitas. Não há conversas de homem, tampouco gemidos prazerosos.
Mas o silêncio sepulcral é quebrado com um ruído: toc, toc, toc, toc, toc, toc, toc, toc,toc, toc,toc...
Suponho que seja seu sapato de salto alto. Piso laminado dá barulho. Pernas longas, batidas ardentes e pisar decidido. Imagino que more sozinha. Minha cabeça fervilha em pensamentos libertinos de dar inveja a um Marquês de Sade.
Vontade de subir andar acima. Tropeçando nas escadarias. Arrombar a porta e desvendar minha cobiça. Libertar meus desejos. Me atar em pernas aveludadas como uma trepadeira agarra o cipó.
Tenho quase certeza de que é uma mulher...e de salto...
Mulheres de salto não pisam no solo. Flutuam como uma pluma graciosa no orvalho. Seu caminhar é diferente. Mulheres de salto não pisam em brasas. Estão acima do bem e do mal. Agulhadas no solo. Levantam as folhas caídas do outono. Quando elas caminham os homens entram em guerra por elas. O dólar despenca. O trânsito pára, a cidade pára, o mundo pára. Tapetes vermelhos brotam nas ruas só para vê-las passar.
Mulheres de salto calçam o pecado. Vestem a fantasia e instigam desejos carnais até do mais santo beato.
Tudo na vida é sentimento. Às vezes, lá uma vez que outra, a razão pede passagem. E essa razão, mirrada, pequenina, raquítica nos alerta: “vá, suba ao próximo andar, mas pode se esborrachar com o que verá”. E aí eu dou razão à razão. Vá que eu bata na porta e quem atenda seja um xirú com botas de cowboy. Vá que seja um travesti saltitando pela casa, a passos largos. Vá que seja uma idosa arrastando freneticamente seus chinelos de sola de madeira pelos cômodos.
Às vezes é melhor viver de ilusão do que encarar a realidade. Ficarei quietinho. Nutrindo alegremente minhas fantasias até a eternidade, mesmo sabendo que o que me separa do andar de cima são apenas 30 centímetros de concreto.
Por: Giovane Luz

quarta-feira, agosto 23, 2006

SOPRO DA VIDA...



*Texto escrito aos 16 anos, no auge da minha adolescência e guardado num caderninho velho e empoeirado que estava prestes a ser levado (junto com outras bugigangas) pelos lixeiros da Prefeitura...
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A vida é uma coisa louca. Queremos tudo! Queremos ter sucesso, ter amigos diversos, ter família, filhos, casa confortável Estes desejos são bons, mas não são tudo. São desejos projetados pela nossa mente e também nela idealizados. O homem é forçado ao consumo infreável. É comum vermos grandes celebridades, ricas, famosas e que alcançaram prestígio internacional de mal com a vida. Essas pessoas não estão livres do sofrimento.Talvez pela ambição quase neurótica de alcançar cada vez mais poder e dinheiro torna as pessoas tão miseráveis e pobres de espírito.
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Dias atrás, sentando num banco no centro da cidade e esperando abrir a Prefeitura um velhinho muito saudável, feliz e também muito simples sentou-se ao meu lado e iniciou uma longa conversa comigo. Era perceptível sua disposição, apesar de seus 80 anos de idade...Começou a conversar sobre a vida e eu ouvindo atento aquela figura simpática. Também senti muita felicidade em conversar com ele. Descobri que a vida e a felicidade não se resumem em ter fama ou poder, e que o belo de viver é viver o máximo possível os momentos de alegria em situações simples e cotidianas que acontecem. A felicidade não é um pote de ouro escondida atrás de um arco íris. Ela é real! Vi que aquela pessoa simples, humilde possuía uma maravilhosa vitalidade, independente da situação econômica.
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“A nossa alma é uma criança que nunca sabe o que faz. Quer tudo o que alcança e, quando alcança, não quer mais”. (Autor desconhecido)

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Não sou utilitarista, tampouco hedonista, mas use sua liberdade para praticar e viver a felicidade.
A idéia de que a felicidade é futura me parece errônea. Seguidamente pensamos que “quando completar os estudos serei feliz”, ou “quando conseguir a promoção no trabalho alcançarei a felicidade”. Completamos os estudos, nos formamos, recebemos promoção no trabalho e estamos sempre nos queixando. Não deveríamos projetar a felicidade para o futuro, pois ela encontra-se no presente, nas diversas situações da vida. Basta estarmos atentos para percebermos as oportunidades que a vida nos revela de sermos felizes.
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A vida é para ser sentida. Aproveita-la ao máximo possível e sem arrependimentos é necessário para sermos pessoas mais saudáveis.
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Somos seres de luz. Evidentemente todos temos defeitos e qualidades. No entanto, o defeito é um convite ao erro e o erro é uma oportunidade de mudança.
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“Quando se busca o cume da montanha não se dá importância às pedras do caminho”
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Devemos ter coragem para enfrentar as barreiras e obstáculos que a vida nos proporciona. O medo não é favorável ao desprendimento do ser humano. O medo de errar ou de perder é responsável, em grande parte, pelas desilusões da vida.Enfrentar o medo é muito mais do que nossa tarefa, é nosso dever como seres humanos.
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*janeiro de 1999 (nessa época lia muito Shinyashiki e Paulo Coelho...hehe)
Abraço a todos!!!
Giovane Costa

sábado, agosto 19, 2006

*DREAMS

A sofreguidão da noite
Acalanteia minhas nervuras.
Oh, virgem loucura
De o amor de uma ninfa
Audaz que me tortura.
E na alma da madrugada
Chegaste de repente
Cobrindo-me de devaneios
Suave penumbra
Satisfaz-me os anseios.

Louvosa harmonia
Nos céus está a oferenda
Que desce até o sofrimento
Repousa em águas flutuantes
Resta-me o juramento.

Antes de partir para terras desconhecidas
Leve o mar humano de encanto
Para saíres em febre de amores
Linda ternura que vis arranjar
E extasiar-se com o perfume das flores.


Giovane Luz (17/08/2006)

*(Qualquer semelhança com Baudelaire é mera coincidência)

DEVANEIOS..

Não sou um Augusto dos Anjos, tampouco tenho a maestria de um Álvares de Azevedo. Estou longe do brilhantismo de um Oscar Wilde ou do velho Whitman...Ta bom, vamos parar com esta falsa modéstia leonina!!!Apreciem meus lindos devaneios poéticos.

A noite chega silenciosa
O aliciante uivo da loba,
Vem nos exibir um lindo coral.
O vento sopra velozmente sobre nossas faces,
O coral nos revela subitamente
Uma abrangente e misteriosa sinfonia.
Cantos desconhecidos
Assolando nossos próprios ouvidos.
A imaginação é violável,
Fantasias invadem nossas cabeças.
Devagar, aquela melodia
Ia se esvaindo
Como uma gota d’água se perde no oceano.
Era fascinante com o que nos defrontamos.
A floresta desaparece de repente.
Caímos em outra dimensão
A doce melodia agora
Transforma-se num cântico infernal.
O ar está quente
De repente despertamos,
O sono é profundo
Aos olhos dos cegos.


Giovane Luz

A caverna

Quando viajantes noturnos
Ousam trafegar por mundos extremos
O mar deságua em desafios
A tormenta abafa os corações

Eis que a aflição é suprema
Intensa
A imensidão da caverna
É um jogo
Um jogo com armadilhas

A realidade é um jogo
A caverna é apenas

Uma simples e úmida caverna

Giovane Luz

A JUSTIÇA ARISTOTÉLICA

Não apenas aprecio o direito material em si (civil, penal), mas as origens do direito, bem como a sistemática política e filosófica da ciência. Nesse sentido, apresento alguns trabalhos acadêmicos sobre o conceito de justiça sob a ótica aristotélica.
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A síntese do pensamento jurídico aristotélico está ligada principalmente ao conceito de prudência, ou ainda “phronesis”, que estão vinculados ao saber fazer e ao saber agir.
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Segundo a filosofia grega o conceito de “phronesis” expressa o conhecimento das exigências da ordem cósmica para a práxis. Pensar corretamente e sensatamente é a mais alta virtude e a sabedoria diz a verdade e age conforme a natureza, ouvindo a sua voz.
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A ética aristotélica está baseada na filosofia moral de um postulado metafísico: o de que o bem de uma coisa é o seu fim; é aquilo para o qual todas as coisas tendem.
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Para Aristóteles, este fim é objetivo, estando inscrito na ordem do SER.
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O homem, para alcançar a medida de ação que é o justo meio, é necessário um tipo de saber prático, determinando em caso concreto, qual é o justo meio que deve ser realizado. Este saber prático é a PRUDÊNCIA. Esta será adquirida com a experiência, e o homem que possuir esta virtude é o homem que saberá diferenciar, por exemplo, o certo do errado. Portanto, para Aristóteles, um garoto de 12 anos não poderá, por exemplo, discutir sobre assuntos políticos com uma pessoa de 50 anos, pois este último terá experiência o suficiente para debater a questão, dado à razão de já possuir uma verdade prática.
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O fundamento deste conceito baseia-se no fato de que o conhecimento do singular que provém da experiência é suficiente para poder bem agir. Para Aristóteles a experiência é um importante meio para a aquisição da virtude da prudência.
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PARA ARISTÓTELES QUAL ERA O FIM DE TODO SER HUMANO?E QUAL É O FUNDAMENTO DA JUSTIÇA?
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Para Aristóteles o fim de todo ser humano consiste precisamente nele buscar a FELICIDADE (“eudaimonia”). E este fim está ligado com a atuação, a essência do homem, que corresponde à sua atividade.
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A virtude é uma forma de buscar harmonia, é um meio- termo mantido entre várias tendências da natureza humana. Entre as diferentes virtudes, existe uma chamada virtude da justiça, de natureza muito mais intelectual do que as outras. O principal fundamento da justiça é a igualdade. Segundo a concepção aristotélica de justiça, há dois modos d’esta ser aplicada:

- Justiça distributiva: tem como característica fundamental a divisão de bens e honras da comunidade de acordo com a visão de que cada um perceba o proveito adequado a seus méritos;
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- Justiça sinalagmática: nesta a visão de justiça é dada a cada um naquilo que este dá ou recebe. É dar ou receber um valor objetivamente igual ao da prestação da outra parte.
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Este último conceito de justiça de Aristóteles contém a idéia de proporcionalidade, ou seja, o que eu dou deve ser proporcional àquilo que recebo. Aliás, Aristóteles foi o primeiro pensador a criar a idéia de proporcionalidade.
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O princípio da Proporcionalidade liga-se ao pensamento aristotélico na medida em que deve haver uma compatibilidade entre o fim almejado e o meio utilizado. Para estabelecer o equilíbrio é necessário alcançar o justo meio. E o meio empregado deve ser adequado para alcançar a felicidade.
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E COMO ERA IDÉIA DE JUSTIÇA PARA OS ROMANOS?
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Para os romanos, a idéia de que o mundo possui uma ordem é o fundamento de sua experiência jurídica. Nesse sentido, o tratamento casuístico dos problemas era a forma de buscar as exigências dessa ordem para o caso concreto. As soluções eram baseadas no exame paciente da realidade.
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A jurisprudência romana voltava-se para a solução de problemas práticos e a aplicação da justiça nas circunstâncias do caso presente. A preocupação dos juristas na época romana era encontrar um método para alcançar a solução mais adequada do ponto de vista moral, para os conflitos práticos.
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Ademais, conhecer o direito para os jurisconsultos romanos é conhecer a realidade pela experiência. A jurisprudência trabalha com resultados da experiência de várias gerações de juristas e essa experiência era a garantia de solidez de suas funções.
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Mas a virtude da “phronesis” foi sistematizada anteriormente pelo grande mestre Aristóteles, que se caracterizava por ser uma prudência de sabedoria prática.

Um grande abraço!!!

Giovane Luz da Costa